sexta-feira, 10 de maio de 2013

Últimos 120 Minutos Filosofando...


ÚLTIMOS 120 MINUTOS FILOSOFANDO

-Filho! Filho!
Eu ouvia minha mãe gritando, ela batia na portado meu quarto,desesperada, eu a ignorava... Eu a ouvia longe...
- Filho! Abre essa porta pelo amor de deus!
Eu estava muito ocupado, tendo a minha ilusão de liberdade, porem cada vez mais preso a droga... Sim, eu consumia crack na maior cara de pau dentro do meu quarto... Minha mãe estava desesperada, eu já havia chegado a esse ponto, não duraria muito.
Meu pai havia morrido por uma bala perdida há alguns anos antes, eu já nem sei contar o tempo... Minha mãe cuidava de mim e de meus dois irmãos menores com muita luta, já havíamos perdido minha irmã mais velha para as drogas também.
-José Antônio, abra esta porta agora! – Ela esbravejava lá fora, eu viajava aqui dentro...
Deveria fazer mais de um mês que eu não pisava na escola...
Desmaiei com a minha mãe gritando... Sonhei... Revi minha vida passando diante de meus olhos. A única matéria que eu realmente gostava na escola era filosofia...  Me lembrava de meu professor explicando:
- Confúcio era um filosofo oriental, conselheiro do imperador – Confúcio era o meu filosofo preferido. - E com profunda sabedoria Confúcio ajudava o imperador chinês, em vários aspectos. Os filósofos orientais não são muito exemplificados na filosofia acadêmica por que eles usam muito da religiosidade... – O professor interrompeu seus pensamentos e olhou para mim – por favor, José Antônio, pode me falar uma frase de Confúcio?
- “Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavador.” – Nossa, dei sorte dessa vez.
Via também em meu sonho meus irmãos correndo e brincando... Minha mãe trabalhava muito para tentar nos sustentar. Ela era secretária, não éramos muito ricos, mas tínhamos ganhado um vídeo – game certa vez, talvez para minha não se sentir tão culpada por trabalhar tanto. Ela parecia cega aos problemas dos filhos após a morte de meu pai. Ela, mesmo morando em uma casa humilde, sendo uma mulher viúva e tendo ainda três filhos pra cuidar, lutava pela igualdade em seu trabalho, pois ainda os homens que faziam serviços que seriam menos remunerados ganhavam mais do que ela. Ela chagava em casa tarde e reclamava:
- Malditos patrões! Eles me pagam tão mal. Será porque eu sou mulher? Será porque tenho a pele negra? – A pele de minha mãe era linda, confesso, sentia inveja de meus irmãos menores que tinham herdado esta pele morena. – Ah que saudades do meu marido, ele tinha tanta coragem... – Ela sentia saudades.
Meus irmão já tinham condições de se cuidarem sozinhos, eu saia com meus amigos, passava toda a tarde fora, bebia, fumava... Eu queria preencher o vazio, a saudades do meu pai, de minha irmã que havia cuidado de mim toda a minha infância, e a ausência da minha mãe, que chorava em silêncio. Um dia um amigo me deu uma pedra para experimentar:
-Vamos mano, não vicia,é bom... - o vicio do crack me tomou... Eu, sempre fazendo as escolhas erradas, sou um mau lavrador...
Acordei de meus delírios, estava eu no hospital...  Me sentia culpado, tantas pessoa querendo viver, e eu, procurando a morte... Me sentia fraco, estava com soro e mais alguns cabos que não sei para que serviam...
Minha mãe aos pés da cama chorava...
- Mãe. – Minha voz saiu muito fraca...
- Você vai acabar igual á sua irmã... – foi a única coisa que ela disse, se sentia mal e isso era visível.  Ela saiu do quarto.
- Mãe... – eu gemi mais uma vez, foi inútil...
Olhei para o lado, o medico havia esquecido a caneta com a receita do que as enfermeiras teriam que me dar, olhei para o relógio, desde o momento que desmaiei ate agora aviam se passado apenas 2 horas... tudo foi muito rápido...
E ao invés de ajudar minha família em crise,a fiz desmoronar mais... Em meu ultimo esforço, peguei aquela receita e a caneta e escrevi, com uma letra quase tão incompreensível quanto a do médico: “Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavador.”
Desmaiei mais uma vez... E desta, eu nunca mais acordaria...

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