ÚLTIMOS 120
MINUTOS FILOSOFANDO
-Filho!
Filho!
Eu
ouvia minha mãe gritando, ela batia na portado meu quarto,desesperada, eu a
ignorava... Eu a ouvia longe...
-
Filho! Abre essa porta pelo amor de deus!
Eu
estava muito ocupado, tendo a minha ilusão de liberdade, porem cada vez mais
preso a droga... Sim, eu consumia crack na maior cara de pau dentro do meu
quarto... Minha mãe estava desesperada, eu já havia chegado a esse ponto, não
duraria muito.
Meu
pai havia morrido por uma bala perdida há alguns anos antes, eu já nem sei
contar o tempo... Minha mãe cuidava de mim e de meus dois irmãos menores com
muita luta, já havíamos perdido minha irmã mais velha para as drogas também.
-José
Antônio, abra esta porta agora! – Ela esbravejava lá fora, eu viajava aqui
dentro...
Deveria
fazer mais de um mês que eu não pisava na escola...
Desmaiei
com a minha mãe gritando... Sonhei... Revi minha vida passando diante de meus
olhos. A única matéria que eu realmente gostava na escola era filosofia... Me lembrava de meu professor explicando:
- Confúcio
era um filosofo oriental, conselheiro do imperador – Confúcio era o meu
filosofo preferido. - E com profunda sabedoria Confúcio ajudava o imperador
chinês, em vários aspectos. Os filósofos orientais não são muito exemplificados
na filosofia acadêmica por que eles usam muito da religiosidade... – O
professor interrompeu seus pensamentos e olhou para mim – por favor, José
Antônio, pode me falar uma frase de Confúcio?
-
“Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do
lavador.” – Nossa, dei sorte dessa vez.
Via
também em meu sonho meus irmãos correndo e brincando... Minha mãe trabalhava
muito para tentar nos sustentar. Ela era secretária, não éramos muito ricos,
mas tínhamos ganhado um vídeo – game certa vez, talvez para minha não se sentir
tão culpada por trabalhar tanto. Ela parecia cega aos problemas dos filhos após
a morte de meu pai. Ela, mesmo morando em uma casa humilde, sendo uma mulher
viúva e tendo ainda três filhos pra cuidar, lutava pela igualdade em seu
trabalho, pois ainda os homens que faziam serviços que seriam menos remunerados
ganhavam mais do que ela. Ela chagava em casa tarde e reclamava:
-
Malditos patrões! Eles me pagam tão mal. Será porque eu sou mulher? Será porque
tenho a pele negra? – A pele de minha mãe era linda, confesso, sentia inveja de
meus irmãos menores que tinham herdado esta pele morena. – Ah que saudades do
meu marido, ele tinha tanta coragem... – Ela sentia saudades.
Meus
irmão já tinham condições de se cuidarem sozinhos, eu saia com meus amigos,
passava toda a tarde fora, bebia, fumava... Eu queria preencher o vazio, a
saudades do meu pai, de minha irmã que havia cuidado de mim toda a minha
infância, e a ausência da minha mãe, que chorava em silêncio. Um dia um amigo
me deu uma pedra para experimentar:
-Vamos
mano, não vicia,é bom... - o vicio do crack me tomou... Eu, sempre fazendo as
escolhas erradas, sou um mau lavrador...
Acordei
de meus delírios, estava eu no hospital...
Me sentia culpado, tantas pessoa querendo viver, e eu, procurando a
morte... Me sentia fraco, estava com soro e mais alguns cabos que não sei para
que serviam...
Minha
mãe aos pés da cama chorava...
-
Mãe. – Minha voz saiu muito fraca...
-
Você vai acabar igual á sua irmã... – foi a única coisa que ela disse, se
sentia mal e isso era visível. Ela saiu
do quarto.
-
Mãe... – eu gemi mais uma vez, foi inútil...
Olhei
para o lado, o medico havia esquecido a caneta com a receita do que as
enfermeiras teriam que me dar, olhei para o relógio, desde o momento que
desmaiei ate agora aviam se passado apenas 2 horas... tudo foi muito rápido...
E
ao invés de ajudar minha família em crise,a fiz desmoronar mais... Em meu
ultimo esforço, peguei aquela receita e a caneta e escrevi, com uma letra quase
tão incompreensível quanto a do médico: “Não são as ervas más que afogam a boa
semente, e sim a negligência do lavador.”
Desmaiei
mais uma vez... E desta, eu nunca mais acordaria...
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