Abalando
estruturas
Uma amiga minha vive dizendo
que odeia amarelo, que prefere tomar cianureto a usar uma roupa amarela. Quem a
conhece já a ouviu dizer isso mil vezes, inclusive seu namorado. Pois uns dias
atrás ela me contou que esse seu namorado chegou em sua casa e, mesmo os dois
estando a uma semana sem se ver, brigaram nos primeiros cinco minutos de
conversa e ele foi embora. "Mas o que aconteceu?" perguntei. "Eu
sei lá", me respondeu ela. "Estávamos morrendo de saudades um do
outro, mas começamos a discutir por causa de uma bobagem". Eu: "Que
bobagem?". Então ela me disse: "Você não vai acreditar, mas ele ficou
desconcertado por eu estar usando uma camiseta amarela".
Ora, ora. Era a oportunidade
para eu utilizar meus dons de psicóloga de fundo de quintal. Perguntei para
minha amiga: "Quer saber o que eu acho?". A irresponsável respondeu:
"Quero". Mal sabia ela que eu recém havia assistido a uma palestra
sobre as armadilhas da tão prestigiada estabilidade. Arregacei as mangas e
mandei ver.
Você está namorando o cara há
pouco tempo. Sabemos como funcionam esses primeiros encontros. Cada um vai
fornecendo informações para o outro: eu adoro rock, eu tenho alergia a frutos
do mar, tenho um irmão com quem não me dou bem, prefiro campo em vez de praia,
não gosto de teatro, jamais vou ter uma moto, não uso roupa amarela. A gente
então vai guardando cada uma dessas frases num baú imaginário, como se fosse um
pequeno tesouro. São os dados secretos de um novo alguém que acaba de entrar em
nossa vida. Assim vamos construindo a relação com certa intimidade e segurança,
até que um belo dia nosso amor propaga as maravilhas de uma peça de teatro que
acabou de assistir, ou sugere 20 dias de férias numa praia deserta, ou usa uma
roupa amarela. Pô, como é que dá pra confiar numa criatura dessas?
Pois dá. Aliás, é mais
confiável uma criatura dessas do que aquela que se algemou em meia dúzia de
"verdades" inabaláveis, que não muda jamais de opinião, que registrou
em cartório sua lista de aversões. Vale para essas bobagens de roupa amarela e
praia deserta, e vale também para coisas mais sérias, como posicionamentos
sobre o amor e o trabalho. Mudanças não significam fragilidade de caráter. É
preciso ter uma certa flexibilidade para evoluir e se divertir com a vida. Mas
ainda: essa flexibilidade é fundamental para manter nossa integridade, por mais
contraditório que pareça. Vieram-me agora à mente os altos edifícios que são
construídos em cidades propensas a terremotos, que mantêm em sua estrutura um
componente que permite que eles se movam durante o abalo. Um edifício que
balança! Com que propósito? Justamente para não vir abaixo. Se ele não se
flexibilizar, a estrutura pode ruir.
O fato de transgredirmos nossas próprias regras só demonstra que estamos conscientes de que a cada dia aprendemos um pouco mais, ou desaprendemos um pouco mais, o que também é amadurecer. Não estamos congeladosem vida. Podemos mudar
de idéia, podemos nos reapresentar ao mundo, podemos nos olhar no espelho de
manhã e dizer: bom dia, muito prazer. Ninguém precisa ficar desconcertado
diante de alguém que se desconstrói às vezes.
O fato de transgredirmos nossas próprias regras só demonstra que estamos conscientes de que a cada dia aprendemos um pouco mais, ou desaprendemos um pouco mais, o que também é amadurecer. Não estamos congelados
Eu também não gosto de roupa
amarela. Quem abrir meu armário vai encontrar basicamente peças brancas,
pretas, cinzas e em algumas tonalidades de verde. No entanto, hoje de manhã saí
com um casaco amarelo canário! Tenho há mais de 10 anos e quase nunca usei.
Pois hoje saí com ele para dar uma volta e retornei para casa sendo a
mesmíssima pessoa, apenas um pouco mais alegre por ter me sentido diferente de
mim mesma, o que é vital uma vez ao dia.
Martha Medeiros
Sempre
desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as
coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou
menos.
Tudo perda de
tempo.
Viver tem que
ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com
eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoraçao ou seu desprezo.
O que não faz
você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não
merece fazer parte da sua biografia.
(trecho de O
Divã)
Martha Medeiros
"Adoro massas cinzentas,
detesto cor-de-rosa. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa,
impulsiva e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e
estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos."
Martha Medeiros
O jeito deles
O que é que
faz a gente se apaixonar por alguém? Mistério misterioso. Não é só porque ele é
esportista, não é só porque ela é linda, pois há esportistas sem cérebro e
lindas idem, e você, que tem um, não vai querer saber de descerebrados.
Mas também
não basta ser inteligente, por mais que a inteligência esteja bem cotada no
mercado. Tem que ser inteligente e... algo mais. O que é este algo mais?
Mistério
decifrado: é o jeito.
A gente se
apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ela
tem olhos azuis: é o jeito dele de dizer versos em voz alta como se ele mesmo
os tivesse escrito pra nós; é o jeito dela de piscar demorado seus lindos olhos
azuis, como se estivesse em câmera lenta.
O jeito de
caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão
no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito
de sorrir. Vá tentar explicar isso.
Pelo meu
primeiro namorado, me apaixonei porque ele tinha um jeito de estar nas festas
parecendo que não estava, era como se só eu o estivesse enxergando.
O segundo
namorado me fisgou porque tinha um jeito de morder palitos de fósforo que me
deixava louca ok, pode rir. Ele era um cara sofisticado, e por isso mesmo eu
vibrava quando baixava nele um caminhoneiro.
O terceiro
namorado tinha um jeito de olhar que parecia que despia a gente: não as roupas
da gente, mas a alma da gente. Logo vi que eu jamais conseguiria esconder algum
segredo dele, era como se ele me conhecesse antes mesmo de eu nascer. Por
precaução, resolvi casar com o sujeito e mantê-lo por perto.
E teve
aqueles que não viraram namorados também por causa do jeito: do jeito vulgar de
falar, do jeito de rir sempre alto demais e por coisas totalmente sem graça, do
jeito rude de tratar os garçons, do jeito mauricinho de se vestir: nunca um
desleixo, sempre engomado e perfumado, até na beira da praia. Nenhum defeito
nisso. Pode até ser que eu tenha perdido os caras mais sensacionais do
universo.
Mas o cara
mais sensacional do universo e a mulher mais fantástica do planeta nunca irão
conquistar você, a não ser que tenham um jeito de ser que você não consiga
explicar.
Porque esses
jeitos que nos encantam não se explicam mesmo.
Martha Medeiros
Perguntas
Quantas vezes você
andava na rua e sentiu um perfume e lembrou de alguém que gosta muito?
Quantas vezes você olhou para uma paisagem em uma foto, e não se imaginou lá com alguém...
Quantas vezes você estava do lado de alguém, e sua cabeça não estava ali?
Alguma vez você já se arrependeu de algo que falou dois segundos depois de ter falado?
Você deve ter visto que aquele filme, que vocês dois viram juntos no cinema, vai passar na TV...
Quantas vezes você olhou para uma paisagem em uma foto, e não se imaginou lá com alguém...
Quantas vezes você estava do lado de alguém, e sua cabeça não estava ali?
Alguma vez você já se arrependeu de algo que falou dois segundos depois de ter falado?
Você deve ter visto que aquele filme, que vocês dois viram juntos no cinema, vai passar na TV...
E você gelou porque
o bom daquele momento já passou...
E aquela música que
você não gosta de ouvir porque lembra algo ou alguém que você quer esquecer,
mas não consegue?
Não teve aquele dia
em que tudo deu errado, mas que no finzinho aconteceu algo maravilhoso?
E aquele dia em que
tudo deu certo, exceto pelo final que estragou tudo?
Você já chorou por
que lembrou de alguém que amava e não pôde dizer isso para essa pessoa?
Você já reencontrou
um grande amor do passado e viu que ele mudou?
Para essas perguntas
existem muitas respostas...
Mas o importante
sobre elas não é a resposta em si...
Mas sim o
sentimento...
Todos nós amamos,
erramos ou julgamos mal...
Todos nós já fizemos
uma coisa quando o coração mandava fazer outra...
Então, qual a moral
disso tudo?
Nem tudo sai como
planejamos portanto, uma coisa é certa...
Não continue
pensando em suas fraquezas e erros, faça tudo que puder para ser feliz hoje!
Não deite com mágoas
no coração.
Não durma sem ao
menos fazer uma pessoa feliz!
E comece com você
mesmo!!!
Martha Medeiros
PEDAÇOS DE MIM
Eu
sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos
Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão
Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante
Já
Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas
Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar
Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei
Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos
Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão
Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante
Já
Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas
Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar
Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei
Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.
Martha Medeiros
Eu
triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua".
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua".
Martha Medeiros
Por que você ama
quem você ama?
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.
O amor não é chegado a fazer contas,
não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é
educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo
cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que
provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela
fragilidade que se revela quando menos se espera.
Então que ela tem um jeito de sorrir
que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora
brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que
vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não tem
a maior vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue
despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga.
Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este
cara? Não pergunte para mim.
Você é inteligente. Lê livros,
revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas
sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo
nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas
no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de
viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é
imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém. Com um currículo
desse, criatura, por que diabo está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o
amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você
inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer
conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem
de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons
motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito do
amor da sua vida!
Martha Medeiros
Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão
devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de
revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os
dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre
minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte
algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja
preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais.
Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um
albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo.
Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre
por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu
chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. (Então
fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos
altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de
braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que
estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado,
você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus
próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja
um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente
triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem
filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido
preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa,
uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca
... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente
de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... Isso
a gente vê depois... Se calhar... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora.
Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e
digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem
nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se
nada disso funcionar... Experimente me amar!
Martha Medeiros
O contrário do
Amor
O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria
preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse
totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você
se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por
completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém.
Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta
mais do cadastro.
Para odiar
alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca
sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração,
ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos
energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela
face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio,
necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa
pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse
uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para
sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em
questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou
uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos
seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca,
coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de
sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos.
A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança
nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que
apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou
queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma
atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio
habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.
Martha Medeiros
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