História de uma alma
"Precisava de ter alguém a quem escrever, sem
precisar de ter medo..
Caminhava naquela rua bem iluminada por luzes
laranjas, quando de repente te vi, ali estavas tu a olhar para o vazio que te
rodeava, e sem me aperceber, perdi-me.
Tinha vinte anos naquela altura, e estava longe de
imaginar, o que a vida me poderia fazer ver.
Acordei sem perceber onde estava, onde estavam,
todos os que me rodeavam. Sozinho no escuro não consegui gritar. Lembro-mo do
som do meu coração, que correu, correu desenfreado ao se aperceber do
desamparo.
Quando vi a tua mão no escuro, senti muito medo,
quando partiste, tive medo de voltar a estar sozinho. Ainda nem sabia quem eras
mas, a tua presença despertou em mim uma sensação inigualável, um despertar
nunca antes sentido..
Talvez seja culpa tua, a minha presença aqui…
Chovia naquela noite, a cabana era velha e
talvez um pouco empoeirada, alem de ser pobre, fazia-me feliz o seu aconchego.
Sentei-me a olhar a chama que se consumia na
lareira, as madeiras velhas que sustentavam o meu refugio, mostravam-se firmes
perante o abalo oferecido pelas fortes rajadas de vento que se faziam sentir lá
fora.
Olhei pela janela em busca de algum ser, sem
sucesso. Os animais estariam provavelmente nos seus abrigos, protegidos da
espessa camada de neve que cobria o chão. O bosque escuro, deixava apenas
transparecer o vislumbre ténue, do luar que brilhava na superfície do lago,
escondido pela densa vegetação.
Era noite cerrada quando decidi sair. Senti um
arrepio ao fechar a velha porta de madeira, sentindo o forte bafo gelado do
vento roçando em mim. Um grosso e velho casaco, e um pau que me apoiava, foi
tudo o que me guiou até a escuridão do bosque.
Por mais estranho que se parece-se, o vento parou
de repente sem aviso, nada se ouvia, nem um insecto ou pássaro nocturno.
Parei para escutar o silêncio, a minha perna
latejava sem parar, o que me obrigou a parar uns metros a frente sentando-me
numa pedra quase que esculpida num enorme carvalho, o luar a cima de mim
continuava cheio de luz, apenas interrompido por nuvens passageiras.
Como quase sempre, estava sozinho sem ninguém por
perto com quem falar. Decidi continuar a caminhada nocturna, levantando-me,
dirigi-me até o lago como muitas vezes antes o fizera.
“Algo em mim estava diferente naquela noite.
Ajoelhei-me perante as águas silenciosas e olhei
para o lago onde me vi reflectido na superfície do mesmo, de uma forma como
antes nunca me tinha visto, procurei em mim o ser que um dia fora, procurei, no
meu olhar escuro e encovado, mas o que vi foi… um olhar que não era meu, dentro
de mim, parado, a olhar-me.
Por segundos pensei estar a imaginar, o que via era
algo tão absurdo, que só poderia ser fruto da minha mente consumida pela
solidão…
A muito que deixara de gostar das pessoas como
pensara um dia poder gostar, e por isso me tinha entregue a reclusão.
Desviei o olhar por um segundo, quando voltei a
olhar, consegui ver de novo aquele olhar frio e sinistro…
Erguendo o rosto para o luar, detive-me com o que
via na outra margem do lago… alguém, envolto na escuridão como que num escuro
manto, olhava-me com o mesmo olhar, que acabara de ver no meu reflexo, um olhar
distante e frio.
Não vi o seu rosto, mas sem dúvida que era o seu
olhar que acabara de ver, dentro de mim, a olhar-me…
O meu coração bateu descompassado no momento em que
percebi quem era Aquele Estranho. Pensei em correr, mas por alguma razão não o
consegui, nem tão pouco consegui desfitar o seu olhar…
Senti-O a minha volta, como que, uma força
invisível…foi aí quando me senti pequeno e impotente… eu era apenas o meu
coração que galopava incessantemente, querendo fazer sentir-se, num último e
derradeiro momento, um último impulso…
Naqueles poucos segundos, lembrei-me de tudo aquilo
que vivera até então, dos amigos que tivera, os seres que conhecera, os cheiros
que sentira, sabores, os sons, as cores..sem perceber o que realmente tinha
valido a pena viver…
Depois… senti-me afastar de tudo aquilo que algum
dia conhecera. Senti a escuridão envolver-me sem nada conseguir fazer… Dei por
mim a ser puxado para o nada, como que arrastado para longe da matéria que me
rodeava. Uma luz apareceu na escuridão, parecendo se estar a mover a grande
velocidade na minha direcção. A medida que se aproximava, ia-se tornado maior…
Lembro-me de ver o meu corpo no chão, como que
visto do céu. Recordo-me de ver a Terra afastar-se de mim como que caindo por
debaixo dos meus pés, seguida de todo o Universo, que por sua vez, dera lugar
ao vazio, à escuridão e ao silêncio… a Morte.
Antes de adormecer, ouvi algo que nunca esquecerei,
por toda a minha viagem: “Uns podem acreditar que Ele sempre existiu, outros
podem pensar que isto nunca aconteceu. Só Ele saberá onde estás, só Ele te dirá
quem és, até encontrares o teu caminho de volta.”
Cresci num segundo, mais rápido do que levara toda
a minha vida crescer…
Existia uma pequena aldeia, que ficava a cerca de
vinte quilómetros a Oeste da minha pequena cabana, onde passava os dias a
dormir e as noites a olhar as estrelas, minhas confidentes e companheiras.
A Este encontrava-se o mar, deixando a minha
imaginação perdida no seu horizonte. A Norte ficava a montanha gelada, a Sul
talvez existisse a tão sonhada terra prometida, onde os homens e os animais se
olhavam sem medo. Onde compreendiam a vida, e sabiam que nunca haviam pedido
para ali estar, naquele chão, que quando nasceram e abriram os olhos ao sol,
nada tinham, quando partissem, partiriam sem nada.
Deixei de achar importantes as coisas terrenas que
me rodeavam, as banalidades que se sucediam vez após vez, deixei de querer voar
pelos pequenos telhados que via de cima, descer, espreita-los e ver as coisas
esquisitas e esquecidas que lá se passavam…
Hoje que posso fazê-lo, vejo que os homens talvez
não vejam o que eu vi, talvez não mereçam que lhes mostre o sítio onde estão,
perdidos…
Se pudesse, pediria para não voltar a acordar aqui,
sozinho, talvez pediria para não voltar a acordar, poder permanecer na
escuridão e não ter de enfrentar os meus medos: estar sozinho, ter medo de
estar acompanhado."
É noite de lua cheia
Sentimentos vagam sem rumo
Em uma imensa escuridão 3D
É noite de lua cheia
É a única que acolhe com amor
Com sua escuridão na monótona noite
Mesmo assim não é suficiente
Com a escuridão que você traz
Ainda pode esconder muitas respostas
O mundo parece estar pequeno na minha mente
Tudo esta sendo aprisionado
Não consigo dizer seu nome
Todo o tormento e a dor rapidamente estão vagando em volta de nosso espelhos
Nunca poderemos conter
As lagrimas que a felicidade nos reserva
Desculpa pela falta de fontes, realmente não me lembro de aonde vieram estes textos, mas os acho muito bons. Se o autor chegar a ver isso, por favor se manifeste! ^.^
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